O Computador que Levou o Homem à Lua

Em 1969, a missão Apollo 11 fez história ao levar os primeiros seres humanos à Lua. Um dos marcos mais impressionantes desse feito foi o computador que controlou o módulo de comando e o módulo lunar, o Apollo Guidance Computer (AGC).

Computador Apollo

Embora o AGC fosse primitivo comparado aos padrões de hoje, ele desempenhou um papel fundamental no sucesso da missão.

 Neste artigo, vamos explorar o hardware do Apollo Guidance Computer, detalhando suas especificações técnicas, seu impacto na missão e como ele ajudou a levar o homem à Lua.

O Contexto Histórico do Apollo Guidance Computer

O Apollo Guidance Computer (AGC) foi projetado pela MIT Instrumentation Laboratory para ser o cérebro da missão Apollo.

Apollo Guidance Computer

A NASA precisava de um sistema de navegação e controle extremamente preciso para garantir que a nave espacial chegasse até a Lua e retornasse à Terra com segurança.

Isso se tornou um desafio significativo, pois a tecnologia disponível na época era muito menos avançada do que os sistemas modernos de computação.

O AGC foi projetado para ser leve, compacto e confiável, com uma capacidade de processamento limitada, mas poderosa para a época.

Ele era responsável por fornecer orientação durante a viagem espacial, realizar cálculos de órbita e controlar os motores de propulsão. Apesar de seu tamanho e capacidades limitadas, o AGC foi crucial para o sucesso da missão Apollo.

Arquitetura do Apollo Guidance Computer

O Processador do AGC

O Apollo Guidance Computer era baseado em um processador customizado que foi projetado especificamente para a missão.

O AGC usava um processador de 16 bits, com um desempenho que pode parecer modesto para os padrões modernos.

AGC apollo computador

Ele era capaz de realizar até 85.000 operações por segundo, uma capacidade que, embora baixa em comparação com os processadores modernos, era suficiente para as necessidades da missão Apollo.

O processador do AGC foi projetado para ser extremamente confiável e eficiente. Sua arquitetura foi otimizada para realizar operações de ponto fixo, em vez de operações de ponto flutuante, o que significava que ele poderia realizar cálculos matemáticos mais simples, mas essenciais para o controle da navegação e orientação.

Memória e Armazenamento

Uma das características mais notáveis do Apollo Guidance Computer era sua quantidade limitada de memória.

O AGC possuía apenas 64 kilobytes de memória, o que é quase incompreensível nos dias de hoje, considerando que os smartphones modernos têm bilhões de bytes de memória.

No entanto, a memória do AGC foi projetada para ser extremamente eficiente para as operações da missão.

O AGC utilizava dois tipos principais de memória: a memória de leitura-gravação (RAM) e a memória de somente leitura (ROM).

A RAM tinha uma capacidade de 2.048 palavras, o que correspondia a 4.096 bytes. Esse espaço era usado para armazenar dados temporários durante a execução das operações de navegação e controle.

Display AGC

A memória ROM, por outro lado, armazenava o código de software necessário para a operação do AGC. A ROM era uma memória não volátil, o que significa que ela não perdia suas informações quando o computador era desligado.

A ROM do AGC continha cerca de 36.864 palavras, ou cerca de 73.728 bytes, e armazenava o software de navegação e orientação que controlava o módulo lunar e o módulo de comando.

O Sistema de Entrada e Saída

A interação com o Apollo Guidance Computer era feita através de dois principais dispositivos de entrada e saída: o Display and Keyboard Unit (DKU) e o Sextant.

Display and Keyboard Unit (DKU)

O DKU era a interface principal que os astronautas usavam para interagir com o AGC. Ele consistia em um display de luzes de LED e um teclado numérico com uma série de botões.

display AGC

Os astronautas podiam usar o teclado para inserir comandos e informações, e o display mostrava as informações relevantes, como a velocidade da nave, a trajetória e a altitude.

O teclado não era um teclado convencional. Ele era composto por um conjunto de botões numéricos e outras teclas de função, projetado para ser usado com luvas espaciais. Embora o DKU fosse simples, ele foi projetado de forma que os astronautas pudessem operar a nave com precisão mesmo em condições extremas.

Sextant

O sextante era um dispositivo de navegação utilizado pelos astronautas para determinar a posição relativa da nave em relação a estrelas específicas.

Ele era um dispositivo mecânico que fornecia informações cruciais para os cálculos de orientação feitos pelo AGC. O sextante enviava dados para o computador, que usava essas informações para ajustar a trajetória e a velocidade da nave.

O Software do Apollo Guidance Computer

Embora o hardware do AGC fosse impressionante, seu verdadeiro poder estava no software que o acompanhava.

O software foi desenvolvido especificamente para as necessidades da missão Apollo e foi um dos primeiros exemplos de software em tempo real. Ele precisava garantir que as operações de navegação e orientação fossem feitas de forma precisa e eficiente, sem falhas, em tempo real.

O software era escrito em uma linguagem chamada AGC assembly language (linguagem de montagem do AGC), que foi projetada para ser eficiente e compacta.

Os programadores que desenvolveram o software para o AGC eram pioneiros em sua área, e muitos deles, incluindo Margaret Hamilton, desempenharam papéis fundamentais no sucesso do projeto.

Uma característica importante do software era sua capacidade de lidar com falhas. O AGC foi projetado para ser resistente a erros e, caso algum problema ocorresse, o software tinha rotinas de recuperação para lidar com situações de falha, o que aumentava a confiabilidade do sistema durante a missão.

Características Técnicas do Hardware do AGC

Abaixo estão as especificações técnicas detalhadas do Apollo Guidance Computer:

  • Processador: 16 bits, com até 85.000 operações por segundo.
  • Memória RAM: 2.048 palavras (4.096 bytes).
  • Memória ROM: 36.864 palavras (73.728 bytes).
  • Armazenamento: Sem armazenamento em disco convencional. O software e os dados eram armazenados em memória ROM e RAM.
  • Velocidade de Processamento: Capacidade de realizar 85.000 operações por segundo.
  • Consumo de Energia: O AGC tinha um consumo de energia de aproximadamente 70 watts.
  • Display e Entrada: Display de LEDs e teclado numérico, ambos projetados para serem operados com luvas espaciais.

Desafios e Inovações do Apollo Guidance Computer

O AGC foi uma das inovações mais notáveis da década de 1960. Apesar de seu poder de processamento limitado, ele foi crucial para o sucesso da missão Apollo.

Missão Apollo 11
Imagem: Nasa

Ele foi projetado para ser incrivelmente confiável, com redundância e verificações de erro embutidas em seu software.

Outro grande desafio foi a miniaturização. Durante os anos 60, o tamanho e o peso eram fatores cruciais em qualquer missão espacial.

O AGC foi projetado para ser o menor possível, sem comprometer suas funções essenciais. Seu tamanho compacto permitiu que ele fosse instalado tanto no módulo lunar quanto no módulo de comando, desempenhando papéis vitais em ambos.

Conclusão

O Apollo Guidance Computer foi uma peça essencial do hardware que permitiu que o homem chegasse à Lua.

Com especificações que, à primeira vista, podem parecer modestas, o AGC demonstrou como a inovação tecnológica pode ultrapassar as limitações da época.

Sua capacidade de realizar cálculos precisos e coordenar as operações de navegação e controle durante a missão Apollo foi crucial para o sucesso dessa histórica jornada espacial.

O AGC não apenas ajudou a levar os astronautas à Lua, mas também marcou um marco no desenvolvimento da computação e da engenharia, influenciando os avanços tecnológicos que viram o mundo se transformar nas décadas seguintes.

Referências

  • “The Apollo Guidance Computer: Architecture and Operation” – S. B. McDonald, 1974.
  • “The Lunar Module and Apollo Guidance Computer” – NASA History Office, 2009.
  • “The Computers that Took Us to the Moon” – K. L. P. Zeltner, 2017.
  • Hamilton, Margaret. “The Moonshot Code.” MIT Press, 2019.
  • Site oficial da Nasa: https://www.nasa.gov/

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Foto de João Firmino

João Firmino

Redator da Aceleron